Logo

Debate em Santa Comba Dão sobre a regeneração descontrolada de eucaliptos

Jornada sobre a Reabilitação do EucaliptoMais de três dezenas de pessoas estiveram, na manhã de 11 de outubro, no auditório municipal, em Santa Comba Dão, para assistir a uma jornada de debate sobre a regeneração descontrolada de eucaliptos em áreas queimadas.


Organizada em parceria pela Quercus – Núcleo de Viseu e pelo Município de Santa Comba Dão, a iniciativa teve como objetivo promover o debate sobre a problemática dos novos povoamentos de eucaliptos que proliferaram, de forma descontrolada, em terrenos florestais e agrícolas adjacentes (a florestais), depois dos incêndios de 15 de outubro de 2017.


Esta elevada regeneração seminal (através de sementes) traduz-se em povoamentos com densidades que chegam a ultrapassar as 300 plantas por metro quadrado. Trata-se de um problema na ordem do dia para proprietários e populações afetadas, que  foi analisado pelos participantes na mesa redonda -  os professores Joaquim Sande Silva,da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), Hélder Viana, da Escola Superior Agrária de Viseu e Elizabete Marchante, da Universidade de Coimbra. A referir, igualmente, o contributo dos oradores da Quercus, Domingos Patacho,  coordenador do grupo de trabalho das Florestas, e João Branco, presidente da Direção Nacional, que enquadrou o tema e a problemática, quer na dimensão técnica, quer na ecológica.

Genericamente, ao longo da manhã, falou-se sobre as condições excecionais que propiciaram este proliferação, desencadeada pelo incêndio de outubro de 2017,  do impacto no território, e das medidas de gestão passíveis de serem aplicadas para  travar, a curto prazo, esta disseminação, que aumenta o potencial de risco de incêndio. Uma das questões levantadas foi o facto do fenómeno acontecer, sobretudo, em zonas mal geridas ou abandonadas pelos proprietários, registando-se quer em eucaliptais, quer noutras áreas florestais e agrícolas adjacentes a eucaliptais e/ou a sementões (eucaliptos velhos, conduzidos em alto fuste, e grandes produtores de sementes). Este assunto trouxe ao debate o tema transversal  do cadastro florestal, como forma de clarificar a propriedade dos povoamentos florestais nos diferentes territórios.   

Da regeneração seminal do eucalipto até à gestão e ordenamento florestal do território
 Com a participação de investigadores, docentes, representantes de empresas de celulose,  proprietários e funcionários de várias entidades ligadas à gestão e ao ordenamento florestal, o debate viajou entre a temática da regeneração seminal do eucalipto até questões transversais relacionadas com a  gestão e ordenamento florestal, como o abandono do interior e a presença dominante do minifúndio na propriedade florestal e agrícola, os interesses económicos associados à floresta, o preço, a especulação e a desvalorização da madeira.

No que à solução do problema diz respeito, alguns intervenientes apontaram caminhos a longo prazo, como a necessidade de uma intervenção mais atuante das autarquias na gestão florestal, através da implementação de Planos Municipais de Ordenamento da Floresta, o estabelecimento de cotas para a floresta ou a reestruturação fundiária, que visa o redimensionamento e alteração da estrutura das explorações agrícolas. Foi, igualmente, referida a necessidade de uma maior e melhor fiscalização e de um reajuste legislativo. Os escassos recursos e meios das autarquias e da administração central  foram apontados como constantes entraves a uma resposta global e integrada para o problema da gestão  da floresta em Portugal.

Elizabete Marchante da Universidade de Coimbra acredita que "agora" é o momento para se  fazer o caminho em direção a uma gestão mais eficiente das florestas. Numa primeira abordagem deve-se apostar na formação dos proprietários de áreas florestais geridas. O caminho, de acordo com a investigadora,  passa também por uma utilização, mais controlada, do eucalipto  e por combater o abandono das áreas florestais, apesar do despovoamento ser uma realidade  transversal aos territórios do interior. De acordo com a investigadora,  o caminho tem ser feito em conjunto , devendo ser procurada uma solução partilhada não só pelos proprietários, mas por toda a comunidade.

Presente na sessão, Joaquim Agostinho Marques, vice-presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, falou sobre algumas ações informativas e de debate,apoiadas pelo Município, no âmbito da gestão florestal de territórios afetados pelos incêndios. O representante da autarquia partilhou, com os participantes uma ideia que surgiu  no âmbito do seminário "Preparar o Futuro":  atribuir um apoio aos proprietários que efetuem a limpeza dos seus terrenos - uma medida que promove e premeia a boa gestão florestal. A sugestão passa por promover o financiamento da silvicultura de pequena dimensão, através dos benefícios que indiretamente esta atividade presta a outros setores.

Medidas de gestão para travar a proliferação descontrolada de eucaliptos
Mas, enquanto urge uma resposta global e integrada, Joaquim Sande Silva reafirmou a necessidade de uma atuação imediata de proprietários e autarquias perto de  habitações, agregados populacionais, pólos industriais e vias de comunicação, em zonas afetadas pela proliferação descontrolada de eucaliptos.  

O investigador da ESAC defendeu que o foco imediato tem de ser na proteção civil, na proteção de pessoas e bens. Nesse sentido, o investigador elencou um conjunto de medidas de gestão,  passíveis de implementação para travar a proliferação , como o arranque manual, mobilização do solo com grade de discos, ou o uso de motorroçadora,  corta matos ou destroçador.

A aplicação destas e de outras medidas de gestão está diretamente dependente dos recursos financeiros disponíveis para aplicar nos trabalhos, da densidade do povoamento de eucalipto seminal, dimensão da propriedade e  orografia do terreno. Joaquim Sande Silva, referiu que todas estas medidas ainda estão em fase de estudo, sendo que nalguns ensaios já efetuados foi constatada a eficácia do arranque manual, como única medida que garante a erradicação total e imediata das árvores, uma vez que implica o arranque pela raiz. Esta opção foi demonstrada na prática pelo professor Sande Silva, numa visita de campo guiada por Cláudio Jesus, do Balcão do Agricultor de Santa Comba Dão, para observação destes aglomerados de eucalipto seminal, no concelho.

Brevemente, e tendo em vista a informação dos proprietários vão ser promovidas sessões de esclarecimento, onde vão ser abordadas os prós e contras das medidas de gestão para travar a propagação de eucalipto seminal , bem como os condicionalismos inerentes à sua aplicação.


* Entidades Parceiras na organização da Jornada sobre Regeneração de eucalipto em áreas queimadas: Escola Superior Agrária de Coimbra, Escola Superior Agrária de Viseu, Liga para a Proteção da Natureza e Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra

 

Aceda ao relatório sobre esta jornada:

Câmara Municipal de Santa Comba Dão, Largo do Município 13, 3440-337 Santa Comba Dão       Tel.: 232 880 500 | Fax: 232 880 501 | E-mail: geral@cm-santacombadao.pt