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Arquivo municipal - documento do mês de dezembro de 2018

ofício ao regedor do VimieiroA epidemia da gripe pneumónica assolou o país e o mundo há um século  e, mesmo não havendo números precisos, estima-se que tenha vitimado cerca de 60 mil pessoas só em Portugal. Apesar de não se conseguir dizer com precisão quantas vítimas mortais a gripe pneumónica provocou  no concelho de Santa Comba Dão (provavelmente perto de uma centena), sabe-se que a epidemia afetou pessoas de todas as idades e classes sociais, em todas as freguesias do território.  Neste contexto, o Arquivo Municipal selecionou, para documento do mês de dezembro, um ofício do seu espólio, bem como um edital publicado no jornal Beira Alta, à guarda da Biblioteca Municipal Alves Mateus, relacionado com o tema.

 

Descrição 

Há 100 anos viveram-se tempos conturbados. Como se não bastasse a I Guerra Mundial, que terminava deixando uma situação económica e social muito complicada e enorme escassez de alimentos, surgiu um surto de gripe que vitimou populações um pouco por todo o mundo. Embora não existam números precisos, presume-se que tenham morrido mais de 50 milhões de pessoas no mundo, cerca de 60 mil vítimas em Portugal.
Os primeiros casos da pneumónica (a epidemia da gripe também designada por gripe espanhola) conhecidos em Portugal surgiram em Vila Viçosa, em maio de 1918, e a epidemia espalhou-se rapidamente por todo o país. Em Santa Comba Dão, os primeiros relatos surgem em julho do mesmo ano, altura em que a Comissão Edital - Saúde Pública Administrativa da Câmara Municipal começa a tomar medidas tais como analisar as águas das fontes da vila, proceder à lavagem dos depósitos e canalizações e proibir a lavagem de roupa na ribeira, na Ponte da Praça. Muitas das medidas tomadas pela Câmara Municipal surgiram na sequência de outras recomendadas por Ricardo Jorge, então diretor geral da saúde; algumas revelaram-se eficientes, outras nem tanto. Se nos meses de verão a comunicação social local, nomeadamente o jornal Beira Alta, se referia à epidemia da grippe, felizmente de caracter benigno, com o passar do tempo mudou o discurso dando semanalmente nota das vítimas mortais e das terapêuticas a utilizar. O pico da gripe ocorreu em outubro/novembro de 1918: o número de vítimas mortais aumentava diariamente, a Câmara Municipal tentava por vários meios adquirir açúcar para ser vendido aos doentes a um preço mais baixo, os médicos (Dr. José Henriques Gomes e Dr. Bernardo Paes d'Almeida) não tinham “mãos a medir”. A 21 de novembro, o médico municipal e subdelegado de saúde, Dr. José Henriques Gomes, que apesar de também ter sido infetado pelo vírus continuou a tratar quem
precisava da sua ajuda, vê deferido o seu pedido de meio de transporte à Câmara Municipal pois não conseguia, a pé, visitar todos os doentes. Tal como a nível nacional, também em Santa Comba Dão foi criada uma Comissão de Socorros que teve um papel fundamental na ajuda aos desvalidos, quer através da angariação de donativos, como na distribuição de caldos, dietas e fornecimento de leite condensado. Foram vários os santacombadenses, residentes no concelho e fora dele, que quiseram ajudar, não podendo o jornal Beira Alta deixar de fazer referência a esses importantes donativos. Também o então Presidente da República, Sidónio Pais, contribuiu com 300$00.

Não conseguimos dizer com precisão quantas vítimas mortais provocou a gripe pneumónica (provavelmente perto de uma centena) mas sabemos que afetou pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais, em todas as freguesias do nosso concelho. Da freguesia do Vimieiro chegaram relatos curiosos à Administração do Concelho dando conta de mortos que vinham nos comboios. Para evitar o contágio, o Administrador do Concelho solicitava ao subdelegado de saúde que declarasse o óbito para que os corpos fossem enterrados, com a maior decência, no maior curto prazo de tempo possível. *

* Apresentação elaborada com a colaboração da Biblioteca Municipal Alves Mateus

 

Aceda aqui ao documento do mês, onde, no contexto da gripe pneumónica, consta um  ofício do administrador do concelho de Santa Comba Dão ao regedor da freguesia do Vimieiro e um Edital do "Sub-delegado" de Saúde do concelho de Santa Comba Dão, com várias medidas e recomendações:

Câmara Municipal de Santa Comba Dão, Largo do Município 13, 3440-337 Santa Comba Dão       Tel.: 232 880 500 | Fax: 232 880 501 | E-mail: geral@cm-santacombadao.pt