
Enquanto que nos Paços do Concelho estes três acontecimentos são vistos à luz dos documentos do Arquivo Municipal, na Biblioteca Municipal, a epidemia da gripe pneumónica é dada a conhecer "através dos relatos da imprensa local" da época.
Abertas à visita de todos os interessados, as duas mostras dão um forte contributo para a história local, levantando o véu sobre a vivência do período da Primeira Grande Guerra - determinante para a construção da Europa que hoje conhecemos - pelos santacombadenses do início do século XX.
À entrada do edifício dos Paços do Concelho, o visitante encontra uma vitrina com documentos do arquivo municipal, que desvendam factos pouco conhecidos da história local. Há uma centena de anos, partiram, do concelho, 136 jovens para integrarem as fileiras de militares que combatiam contra os alemães. Três perderam a vida em França. O nome destes sargentos e praças, oficiais e equiparados, integra esta mostra, que faz a ligação entre a guerra e a crise das subsistências. Efeito direto do conflito mundial, a escassez dos alimentos gerou um aumento do preço dos géneros, que teve de ser tabelado.
Documentos vários remetem-nos para um período particularmente difícil, durante o qual foi criado um celeiro municipal e impressas senhas de racionamento e de consumo para distribuição, em 1918, pelas freguesias. Para fazer face à escassez absoluta de milho, foram enviados muitos pedidos ao Governo Civil e à Comissão Central das Subsistências para que este cereal chegasse ao concelho. Um ofício da Direção-Geral de Subsistências informava que não poderia ser dispensada a farinha existente em Lisboa, sugerindo que fosse feito um pedido a um celeiro municipal. Outro ofício, desta feita do Celeiro Municipal de Poiares, solicitava informação sobre a possibilidade do celeiro de Santa Comba Dão fornecer milho para abastecimento do concelho de Poiares. A crise era geral e todo o país sofria com as consequências da guerra.
Mesmo quando a 1.ª Grande Guerra chegou ao fim, em 1918, não acabaram as provações. A instabilidade económica associada ao problema da fome e, consequentemente, a debilidade física de grande parte da população, foram circunstâncias que favoreceram a disseminação, pelo território, da gripe pneumónica. A gripe "espanhola" entrou em força, no concelho, em outubro/novembro de 2018 e o médico municipal José Henrique Gomes solicitava, via ofício, um carro para poder visitar os doentes, "sendo impossível fazê-lo a pé ou a cavalo". A salubridade e higiene impunham-se e foi emanado um edital com diversas instruções para a população, em prol da saúde pública.
Também da Cancela, foi recebida uma carta dos habitantes da localidade a solicitar subscrição pública para obras, de caráter urgente, para uma fonte existente na povoação, uma vez que "a nova febre alastra pelo concelho".
Na Biblioteca, a epidemia é dada a conhecer através da imprensa local, que foi pródiga na cobertura deste acontecimento, ao contrário do que aconteceu em muitos pontos do país, onde não se verificou este acompanhamento tão próximo, por parte dos jornais da época. São quarenta notícias, balizadas entre julho de 1918 e junho de 1919, que dão conta das "vivências quotidianas de uma população fustigada pela doença, apesar da censura imposta pelas autoridades governamentais com o intuito de não causar surtos de pânico generalizados".
MAIS INFORMAÇÕES:
Patente até 30 de abril
Exposição "A guerra, a crise das subsistências e a gripe pneumónica no concelho de Santa Comba Dão 1914-1920"
Local: Átrio dos Paços do Concelho de Santa Comba Dão
Patente até 28 de fevereiro
Exposição documental "A gripe pneumónica de 1918/1919 na Imprensa de Santa Comba Dão"
Local: Biblioteca Municipal
Aceda também:
Contextualização: A guerra, a crise das subsistências e a gripe pneumónica no concelho de Santa Comba Dão
Notícia no site da Rede de Bibliotecas de Santa Comba Dão sobre a exposição documental "A Gripe Pneumónica de 1918/1919 na imprensa de Santa Comba Dão (ligação)