A encosta do Patarinho, União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro, concelho de Santa Comba Dão, é palco de uma campanha de escavações arqueológicas, que pretende contribuir para o conhecimento histórico deste espaço, cujos vestígios arqueológicos indicam uma ocupação antiga enquadrada, pelo menos, entre o período Romano e inícios da Alta Idade Média.

Apoiada logística e financeiramente pelo Município de Santa Comba Dão e pela União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro - entidades reconhecedoras da importância desta iniciativa no âmbito da valorização patrimonial-  a campanha arqueológica inscreve-se no quadro da tese de doutoramento do arqueólogo Pedro Matos, realizada na Universidade de Coimbra, cujo objetivo é a compreensão do povoamento antigo, enquadrado entre as épocas romana e medieval, no espaço entre o Rio Mondego e a Serra do Buçaco. A escolha de Santa Comba Dão para o enfoque inicial dos trabalhos arqueológicos recai, concretamente, na expressão patrimonial e na riqueza histórico-cultural do território concelhio.

"Patarinho possui um potencial arqueológico já há muito conhecido pelos santacombadenses", reitera Pedro Matos, e esta campanha de escavações - reconhecida e aprovada pela Direção Geral do Património Cultural - tem, precisamente, como objetivo "mostrar as estruturas habitacionais e vestígios materiais deste antigo assentamento, bem como, analisar a situação que ocupava dentro de uma mais vasta rede de contactos e trocas comerciais à escala regional".

"Trata-se de um local cuja área de dispersão de artefactos identificados à superfície ultrapassa os cinco hectares, o que nos faz crer estarmos perante uma grande quinta (villa) romana, ou mesmo, uma pequena povoação localizada nas proximidades da foz do Dão. Há ainda a possibilidade de ter sido um importante entreposto comercial que albergaria um embarcadouro do Mondego, navegável até este ponto, a partir de onde escoariam, pelas vias terrestres da Beira Alta, os produtos regionais e importados vindos do litoral, ou das cidades de Conimbriga e Aeminium (Coimbra)", adiantou. O arqueólogo avançou na história e explicou que "entrando na Alta Idade Média, esta zona continua como espaço habitacional, certamente, configurado por casas de arquitetura mais modesta, cujos habitantes deixaram o seu testemunho nas sepulturas escavadas na rocha, hoje, facilmente, identificáveis".

E com o avanço das escavações, que começaram no dia 1 e terminam a 26 de julho, vão surgindo os achados arqueológicos. O de maior visibilidade corresponde uma estrutura antiga, cujo período ainda não pode ser precisado, mas que, pela envergadura e tipo de materiais utilizados, comprova a existência "de um assentamento de expressão, em termos estruturais, localizado entre Cagido e Óvoa", explica Pedro Matos.

Ao todo, os trabalhos envolvem 16 estudantes de arqueologia da Universidade de Coimbra (UC), que repartem o trabalho pelas duas quinzenas contempladas nesta primeira campanha e contam com a orientação dos professores Helena Catarino e Ricardo Costeira (UC). De realçar, que é previsível a realização de escavações futuras neste sítio arqueológico, sendo que os artefactos recolhidos na atual campanha, em breve, serão dados a conhecer à comunidade, através de uma exposição/mostra.

De destacar, ainda, que o sítio arqueológico se encontra aberto a visitas da comunidade, sendo possível fazê-lo de segunda a sexta-feira, entre as 07H00 e as 13H20. Com o término dos trabalhos arqueológicos, precisamente, no dia 26 de julho, o sítio será vedado a visitações e as sondagens voltarão a ser tapadas. Para quem segue no sentido Óvoa-Cagido, as escavações estão a ocorrer, aproximadamente, a 50 metros do lado direito da Rua Patarinho, com acesso através de um caminho junto ao começo da calçada.

A equipa de arqueólogos, Município e União de Freguesias reiteram o agradecimento a Mário Cordeiro, proprietário do terreno onde decorrem as escavações, pela autorização concedida para a realização destes trabalhos.