
O diretor da campanha adianta que esta estrutura poderá enquadrar-se numa zona de armazém, onde eram guardadas provisões, indicando ainda que, pelas características apresentadas, as talhas seriam destinadas ao armazenamento de vinho. Esta possibilidade "leva a crer que estamos perante um assentamento, uma villa (quinta) romana ou um pequeno povoado, que deveria amanhar as férteis planuras entre as povoações de Óvoa e Cagido”.
"Estamos neste ponto e é apenas o começo". "Como não foram encontrados os níveis de pavimento nem outros alinhamentos da estrutura, não foi possível, ainda, perceber a sua configuração arquitetónica". "No próximo ano chegaremos lá", revela o jovem diretor da escavação, que planeia mais três campanhas nesta zona, onde se indicia " uma ocupação antiga situada, pelo menos, entre o período romano e inícios da Idade Média".
Pedro Matos enquadra a importância deste sítio arqueológico, associando-o à importância estratégica do rio Mondego, "que era navegável até à extinta aldeia da Foz do Dão", submersa na década de 70 pela Barragem da Aguieira. Na Foz do Dão, o curso fluvial deixava de ser navegável, "portanto teria de passar, na zona de Óvoa, um caminho por terra, que faria a ligação entre um possível embarcadouro e o resto da região", explica.
O arqueólogo adianta que "provavelmente estamos perante um assentamento do período romano ou pós-romano", cujo estudo permitirá descortinar como é que se estabeleciam parte dos contactos económicos a nível regional, associados à localização estratégica do sítio, que beneficiava da navegação do Mondego e dos caminhos terrestres, essenciais para as transações da época.
Tanto esta primeira campanha, como as três escavações que estão programadas para o local, inscrevem-se no âmbito do doutoramento de Pedro Matos, na Universidade de Coimbra, que visa a "compreensão do povoamento antigo, enquadrado entre a época romana e medieval, no espaço entre o Mondego e a Serra do Buçaco". A escolha de Patarinho para este estudo "relaciona-se, precisamente, com o potencial arqueológico da zona, há muito conhecido pela população local, tanto mais que na vasta encosta são, frequentemente, encontrados fragmentos de telhas romanas", informa Pedro Matos. O arqueólogo revela que já no século passado, os padres da zona recolhiam e armazenavam estes materiais e, mais tarde, com o surgimento das máquinas fotográficas, passou a haver registos de imagem desses artefactos.
Patarinho começou a ser estudado por Pedro Matos em 2011, aquando da realização da sua tese de mestrado. Na altura e já então orientado pela professora Helena Catarino, que agora, com o professor Ricardo Costeira, o acompanha no doutoramento, Pedro Matos estudou, os materiais e artefactos recolhidos ao longo dos anos na encosta do Patarinho. Estes artefactos estavam guardados na sede da União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro, e o estudo comprovou tratar-se de um sítio romano e pós-romano.
Apoiada logística e financeiramente pelo Município de Santa Comba Dão e pela União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro, esta campanha inicial de escavações arqueológicas em Patarinho - reconhecida e aprovada pela Direção-Geral do Património Cultural - envolveu, 16 estudantes de arqueologia da Universidade de Coimbra.
Para Agostinho Marques, vice-presidente do Município de Santa Comba Dão, "estas primeiras escavações vieram comprovar o que há muito se sabia, ou seja, que a zona de Patarinho, corresponde a um sítio rico em vestígios, sendo crucial a continuidade dos estudos arqueológicos na zona". "Perceber quem fomos, através do estudo e valorização do património histórico, ajuda a compreender a comunidade que somos, e a perspetivar um futuro melhor. E a arqueologia é crucial neste contexto", conclui.
Agradecimentos ao proprietário do terreno onde decorreu a campanha
A equipa de arqueólogos, Município e União de Freguesias reiteram o agradecimento a Mário Cordeiro, proprietário do terreno onde decorreram as escavações, pela autorização concedida para a realização destes trabalhos.