Apresenta-se Nota de Esclarecimento, assinada pelo presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, sobre o Centro Interpretativo do Estado Novo.
"Em defesa do bom nome de Santa Comba Dão, dos santacombadenses, do Munícípio, e em meu nome pessoal, venho repudiar de forma, veemente e definitiva, o rol de acusações, insinuações e falsidades, que, nos últimos meses, têm proliferado na imprensa, especialmente na forma de artigos de opinião.
1. A mentira assume o formato de calúnia, quando se escreveu (e ainda escreve) ser intenção do Município de Santa Comba Dão construir um "Museu Salazar" na terra natal do ditador. De uma vez por todas: NÃO, jamais esta autarquia teve intenção de promover a criação de um Museu Salazar, É nosso objetivo, sim, construir um Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN) - um espaço promotor do conhecimento histórico, que dê a conhecer, de forma isenta, parte da história do século XX.
À semelhança de outros Centros Interpretativos, a criar na região, e tal como já foi amplamente noticiado, o CIEN vai integrar uma Rede de Centros de Interpretação e Memória Política da I República e do Estado Novo, promovida pela ADICES - Associação de Desenvolvimento Local, em parceria com as autarquias de Carregal do Sal, Penacova, Santa Comba Dão, Seia e Tondela, e com a consultoria científica, técnica e deontológica do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra.
Mostrar a importância da região no século XX, promover o conhecimento e o aprofundamento da democracia, e potenciar a coesão territorial de um conjunto de concelhos de baixa densidade são objetivos desta rede, alicerçada em fortes bases científicas e históricas, que suportam este projeto sem mestres, nem ideologias.
2. Já em conferência de imprensa, João Paulo Avelãs Nunes, historiador e um dos coordenadores científicos do projeto, a par de António Rochette, diretor do CEIS20, e do consultor e historiador Luís Reis Torgal, tinham dissipado qualquer dúvida que houvesse relativamente à integridade científica do projeto. Para João Paulo Avelãs Nunes o CIEN vai ocupar o espaço da escola do Vimeiro, "com um discurso interpretativo e de fomento da democracia, na localidade, onde nasceu o ditador do Estado Novo".
3. E reitero, mais uma vez, no CIEN não será incluído espólio pessoal de Salazar. O equipamento constituir-se-á como um espaço de conhecimento, cultura, de educação e história, que dará a conhecer uma época e a sua contextualização. A salvaguarda da integridade do projeto será assegurada por uma comissão de acompanhamento, a integrar por representantes do concelho e historiadores, que não deixarão adulterar os conteúdos a apresentar.
4. Mas, apesar de todas as provas que temos apresentados de que o CIEN é um projeto sem mestres, nem ideologias, para muitos não há rigor científico que o salve de se tornar um foco de infeção de ideais antidemocráticos, precisamente, porque vai ser construído na terra natal de Oliveira Salazar. Para estes, Santa Comba Dão tem um "magnetismo fascinante" para os crentes da ditadura fascista, para os adoradores de Salazar.
Ora, não podemos permitir que ofendam Santa Comba Dão e os santacombadenses! Ainda que, de forma velada, estes comentadores reiteram o estigma que perdurou e ainda perdura na sociedade portuguesa: o de uma Santa Comba Dão fascista, aduladora de Salazar, de um "foco de infeção" de ideais antidemocráticos.
Santa Comba Dão é e sempre será um concelho amante da democracia, nunca uma terra fascista, nem salazarista! Insinuar que a construção de um Centro Interpretativo do Estado Novo em Santa Comba Dão poderá ser a semente que fará germinar e florescer movimentos fascistas é gravíssimo e de uma irresponsabilidade gritante.
5. Ao contrário destes autores, defendo que a construção do CIEN em Santa Comba Dão é, sobretudo, uma celebração da democracia, um espaço dedicado ao estudo da História e Memória Política do Estado Novo, em que serão mostradas as diferentes facetas do regime.
6. E sim, a criação do CIEN também visa promover, turisticamente, o território, nomeadamente através da captação de fluxos turísticos associados ao turismo cultural e do conhecimento. Enquanto Município do interior, Santa Comba Dão sabe o que é distância dos centros de decisão, as dificuldades em fazer ouvir a sua voz, sabe também, e muito bem, o que é pagar impostos para obras e projetos de que nunca vai beneficiar... tudo isso, a bem do bem comum.
Santa Comba Dão precisa deste e de outros projetos âncora, para alicerçar a sua economia. No entanto, não é facto do CIEN estar, também associado a objetivos turísticos, que vai desvirtuar o projeto que pretendemos implementar. Muito pelo contrário, só reforça o intuito em concretizar um equipamento, promotor e gerador de conhecimento, que responda e acrescente cultura a todos os que procuram saber mais sobre o Estado Novo. É nosso objetivo que o CIEN seja um equipamento obrigatório para a visita de escolas, que sirva de local de estudo para estudantes universitários, que receba investigadores e historiadores, que seja um espaço de celebração da democracia.
7. Por fim, deixo um comentário sobre o voto de condenação do Parlamento ao Museu Salazar, dizendo, como já o disse, que foi um voto inútil. Votou-se o que nunca existiu. Se fiquei desiludido com o meu partido? Fiquei e já tive ocasião de o manifestar em sede própria, tanto mais que foi enviada ao Parlamento informação enquadradora e detalhada sobre os objetivos do projeto, não do Museu Salazar (que nunca existiu!), mas do CIEN.
Apesar deste sério revés - quanto a mim, um atestado de desinformação daqueles que nos governam e até de uma certa leviandade - reafirmo que sempre defenderei a construção do CIEN em Santa Comba Dão, fazendo jus, precisamente, aos valores da democracia e da liberdade, ao contrário do que os detratores do projeto têm apregoado em praça pública.
O Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão
Leonel Gouveia"