

Enquadramento
"A pandemia que atualmente assola o nosso planeta relembra-nos aquela que, em 1918, devastou Portugal e vitimou milhões de pessoas por todo o mundo.
Com efeito, a gripe pneumónica chegou a Portugal em maio de 1918, “entrando” por Vila Viçosa, e rapidamente alastrou por todo o território nacional, que já se encontrava numa situação económica, social e política muito difícil e tentava sobreviver a uma crise de subsistências agravada pela 1ª Grande Guerra. Os relatos dos primeiros casos no concelho de Santa Comba Dão surgem em julho. Embora, por todo o país, muitas notícias tenham sido censuradas, a imprensa de Santa Comba Dão deu grande destaque à pneumónica. A partir da leitura dos jornais locais, Beira Alta e A Beira, ficamos a saber que a 2ª vaga da gripe pneumónica, que ocorreu no outono de 1918, foi mais mortífera do que a 1ª, no verão desse ano. A 3ª vaga ocorreu entre março e junho de 1919, não vitimando tantas pessoas como no outono anterior. A partir da consulta de documentos do arquivo municipal, sabemos que as autoridades locais prontamente tomaram medidas para combaterem a pandemia: análise de águas das fontes, lavagem de depósitos e canalizações, aconselhamento de lavagem da roupa com frequência mas proibição de o fazer na ribeira. Foi criada uma Comissão de Socorros para ajudar os mais necessitados, quer através da angariação de donativos, quer através da distribuição de bens. O hospital de Santa Comba Dão não tinha espaço nem meios de tratamento para cuidar de todos os infetados e os dois médicos municipais, que não tinham “mãos a medir”, divulgavam terapêuticas a utilizar. Também as farmácias tiveram que multiplicar os seus esforços, nomeadamente alargando os horários de funcionamento. A falta de precisão no registo de óbitos dificulta o conhecimento do número exato de vítimas (provavelmente cerca de uma centena)".
Aceda ao documento do mês de maio de 2020 (ofícios do Administrador do Concelho ao farmacêutico Bonito Pereira Cardoso e ao oficial do registo civil de Santa Comba Dão)