Em pleno século X, a villa de Sancta Columba ou Santa Comba – no atual Couto do Mosteiro – era o núcleo mais importante da zona. Só duzentos anos mais tarde surgiu Santa Comba do Burgo – a atual sede do concelho, Santa Comba Dão. Uma campanha arqueológica está a pôr a descoberto materiais e estruturas que revelam estas origens, bem como vestígios de outras ocupações.
"Poderemos estar perante o marco zero do povoamento da villa de Sancta Columba" ou Santa Comba, adiantou o arqueólogo Pedro Matos, após duas semanas de escavações no Couto do Mosteiro, em terreno contíguo à atual igreja matriz.
O diretor da escavações explicou que "em pleno século X – na Alta Idade Média - o núcleo populacional mais importante da zona situava-se no território que agora corresponde ao Couto do Mosteiro, onde existia a importante villa de Sancta Columba". Para o atestar estão os materiais e estruturas encontrados pela equipa composta por estudantes do curso de arqueologia, da Universidade de Coimbra.
O grupo está a pôr a descoberto ruínas associadas à igreja dedicada a Santa Columba – ou um pequeno mosteiro – enquadrado no período entre os séculos IX e XI. A descoberta "poderá remeter às origens de Sancta Columba ou Santa Comba e ao povoamento de todo um território, que se estendia entre as atuais localidades de São Joaninho, Couto do Mosteiro e Santa Comba Dão, acompanhando sempre as margens da ribeira".
António Neves, no estudo Origem de Santa Comba e de Santa Comba Dão, aprofunda que “a villa de Sancta Columba correspondia a um vasto território, com mais de 2.000 hectares, entre Alvarim (conc. Tondela), S. Joaninho, Treixedo, Gestosa e a foz do rio Criz; grosso modo, corresponderia às actuais freguesias de Santa Comba Dão e Couto do Mosteiro”.
“Aqui nasceu Santa Comba Dão” acredita Pedro Matos, que também encontrou, no local, vestígios de um povoamento ainda mais remoto, situado possivelmente entre os séculos I e V depois de Cristo. Antes do templo cristão, a área teve ocupação romana, tendo existido, nas imediações, uma quinta - uma villa romana. A comprová-lo estão as telhas descobertas no local escavado, que poderão corresponder ao telhado aluído de uma das estruturas da villa, aproveitadas para as fundações da igreja de Santa Columba.
“Com o início da reconquista cristã a zona foi, muito provavelmente, reorganizada pelos conquistadores. Não sabemos se a villa romana foi, ou não, abandonada, pelo que poderá mesmo ter havido uma ocupação continuada entre o período romano e a reconquista cristã. O facto é que estamos a encontrar ruínas medievais, associadas a uma igreja, que foi construída na Alta idade Média", sublinhou.
Quanto ao núcleo que deu origem à atual cidade de Santa Comba Dão, sabe-se que surgiu duzentos anos depois de Santa Columba. Chamava-se Santa Comba do Burgo.
Escavações prosseguem no Patarinho
Já esta semana, Pedro Matos retoma – também no concelho – trabalhos iniciados no verão de 2019 no Patarinho, entre as povoações de Óvoa e Cagido.
No Patarinho, estamos perante uma villa romana, também de grande importância, que seria uma propriedade nobre, “ligada à então capital administrativa da zona, que era Bobadela”. A época de povoamento situa-se “ pelo menos, entre o período Romano e inícios da Alta Idade Média”.
Para Pedro Matos, o potencial arqueológico de Santa Comba Dão é imenso, abrangendo – só nas duas zonas escavadas - vestígios que permitem traçar uma linha no tempo, que vai desde os romanos, passando pelas sepulturas rupestres após a queda do império romano até, quatrocentos anos depois, possivelmente aos vestígios do templo na origem de Santa Comba: a igreja ou mosteiro de Sancta Columba.
Promotores e apoios
Enquadradas num projeto de investigação dirigido por Pedro Matos, as duas campanhas arqueológicas têm como promotores o Município de Santa Comba Dão e as Uniões de Freguesias de Óvoa e Vimieiro e de Santa Comba Dão e Couto do Mosteiro. Contam com os apoios da Associação de Estudos do Baixo Dão, do Agrupamento 306 - Escuteiros de Santa Comba Dão, tendo sido realizadas em articulação com os proprietários dos terrenos: Mário Cordeiro, em Óvoa, e Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Couto do Mosteiro, naquela localidade.