Sucedem-se as descobertas acerca do passado romano e medieval no concelho de Santa Comba Dão. Nos verões de 2019 e 2020, o concelho foi palco de duas campanhas arqueológicas, desenvolvidas por uma equipa da Universidade de Coimbra, conduzida por Pedro Matos, que pôs a descoberto ruínas de edifícios milenares. O estudo vai prosseguir, sendo grandes as expetativas relativamente ao aprofundamento da investigação, que decerto terá um impacto significativo no conhecimento histórico local e regional.
Com o total suporte e constante incentivo do Município de Santa Comba Dão, os trabalhos estão a ser desenvolvidos em parceria com a União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, contando com o apoio da Associação de Estudos do Baixo Dão.
Convicto da importância da continuidade destes trabalhos, o presidente da Câmara, Leonel Gouveia, reafirma a manutenção do apoio e suporte financeiro e logístico conferido pela autarquia, desde o primeiro momento, à equipa no terreno. “Conhecer o nosso passado é essencial para nos conhecermos enquanto comunidade e podermos alicerçar projetos de valorização patrimonial, aliados à promoção turística, através de fatores identitários distintivos”, afirma.
Também Joaquim Agostinho Marques, vereador responsável pela área da Cultura, tem vindo a acompanhar de perto os trabalhos, destacando “o empenho da equipa conduzida por Pedro Matos”, bem como “as descobertas e revelações que a cada nova campanha vão acontecendo”. “Sabíamos que no concelho tinha havido ocupação romana. Agora, no Patarinho, Óvoa, esta convicção foi confirmada, adivinhando-se uma estrutura que poderá ser a primeira de um povoado existente na zona”, revelou. Sublinhou também a primeira campanha realizada no Couto do Mosteiro, cujos achados foram interessantíssimos”.
A convicção de presidente e vereador é a mesma: “Santa Comba Dão tem uma riqueza patrimonial imensa, muita já conhecida, mas muita, também, por colocar a descoberto”.
Em representação da União de Freguesias (UF) de Óvoa e Vimieiro – desde o primeiro momento, na primeira linha de apoio às escavações – o presidente, Rui Oliveira, destaca a importância da e valorização patrimonial do território da UF e do próprio concelho. “Não é de mais referir o empenhado trabalho da equipa, que deixou a sua marca, criou amizades e suscitou a curiosidade e interesse, nesta comunidade, relativamente aos trabalhos desenvolvidos”, reiterou.
Enquadramento
As escavações enquadram-se no âmbito do projeto de investigação de Pedro Matos “A Ocupação Antiga entre o Rio Mondego e a Serra do Buçaco: do Período Romano à Idade Média”, desenvolvido na Universidade de Coimbra sob a orientação científica de Helena Catarino e Ricardo Costeira da Silva. Têm como objetivo desvendar as dinâmicas e evolução do povoamento na zona sul do Planalto Beirão, ao longo do primeiro milénio da Era Cristã. A riqueza do património histórico e arqueológico, aliada à situação geográfica privilegiada de Santa Comba Dão, foram os principais motivos de ordem científica, que direcionaram a escolha deste território para a realização das escavações.
Neste momento são dois os sítios arqueológicos em estudo, em Santa Comba Dão: o Passal, na zona da Igreja Matriz do Couto do Mosteiro, e o Patarinho, situado entre as povoações de Óvoa e Cagido (União de Freguesias de Óvoa e Vimieiro).
O Passal – junto à igreja matriz do Couto do Mosteiro Em articulação e autorizadas pela Fábrica da Igreja Paroquial do Couto do Mosteiro, as escavações no Passal revelaram artefactos contemporâneos do primeiro registo histórico da igreja de Santa Columba, no século X d.C.. Foram ainda descobertas as bases de uma estrutura associada ou até mesmo anexa ao referido templo medieval, fundado durante a Reconquista Cristã, embora com vestígios que indiquem estar sobre um nível de ocupação romano.
Os trabalhos no Couto do mosteiro decorreram em julho e agosto de 2020, estando previsto o aprofundamento destes estudos em campanhas posteriores.
Ruínas Romanas do Patarinho Já o sítio do Patarinho tem vindo a ser estudado, ao longo destes dois últimos anos, pela equipa de arqueólogos da Universidade de Coimbra, sempre com a devida autorização do proprietário do terreno, Mário Cordeiro.
Até ao momento foram reveladas ruínas de um edifício romano de grandes dimensões construído entre os séculos I e III d.C., constituído por vários compartimentos. A equipa acredita que - pelo menos - um desses compartimentos estaria ligado à produção de alimentos (vinho ou azeite). Salvaguarda que o edifício, com três divisórias escavadas, o pode ter servido outras funções além da identificada, a revelar com a progressão das escavações.
Apesar da importância deste achado, a equipa de arqueólogos está convicta que o aprofundamento dos trabalhos vai revelar muito mais, acreditando que o edifício agora descoberto possa estar integrado num povoado romano, ligado à rota de navegação do Mondego.
Continuidade dos Trabalhos
Não obstante a importância desses achados, é objetivo da equipa prosseguir com os trabalhos arqueológicos, ainda em fase inicial. A meta é a descoberta integral dos edifícios em estudo, de forma a reconstituir as suas plantas e características arquitetónicas e funcionais.
Para tal vai contar com a manutenção do apoio dos responsáveis do Município, que entendem o património histórico e arqueológico como ferramenta de grande potencial para o desenvolvimento social e económico comunitário.
Destaca-se ainda a projeção extra-fronteiriça do nosso concelho, na medida em que o património arqueológico de Santa Comba Dão tem sido apresentado em congressos e encontros científicos nacionais e internacionais, convertendo esta zona, cada vez mais, num marco ao nível da valorização e salvaguarda do património cultural, e numa referência para a investigação arqueológica do Centro de Portugal.