O piano de concerto da Associação de Música e Artes do Dão (AMAD) foi apresentado, na passada sexta-feira, na Casa da Cultura, num evento despojado e simbólico, mas com uma elevada carga emotiva. E, apesar das previsões para o final do dia serem de tempestade, os elementos mantiveram-se estáveis, como que a proteger a noite “azul” que se viveu em palco, marcada pela genialidade serena de Mário Laginha - protagonista do espetáculo de apresentação do novo instrumento.
O piano de concerto materializou-se perante a plateia depois do pano que o cobria ter sido retirado por elementos do Conservatório de Música e Artes do Dão (CMAD), da AMAD e pelo presidente da Câmara Municipal. O momento foi representativo da união da comunidade em torno da aquisição deste instrumento icónico, que vai ficar ao dispor não só dos alunos e professores do CMAD, mas também de outras associações locais e da própria população.
O espetáculo acompanhou o pendor intimista da apresentação do novo instrumento, tendo registado uma lotação reduzida, em cumprimento de todas as orientações da Direção-Geral de Saúde.
O improviso foi matéria de construção do tema inaugural, que deu mote a um conjunto de músicas emblemáticas, presentes em vários álbuns e projetos de Mário Laginha, que conduziu os presentes para outros locais, tempos, latitudes e até arquiteturas. Este músico de inspiração jazz deu palco ao fado – género que aprendeu a gostar com o passar dos anos – recordou a parceria com a cantora Maria João, em “Choro Feliz”, e homenageou o músico caboverdiano Tcheka. O tema “Tanto Espaço” – integrado num projeto musical sobre arquitetura – e a colaboração com o fadista Camané foram também recordados. Pelo meio, houve improviso e momentos inspiradores e únicos, como aquele em que Mário Laginha dedilhou as cordas do piano como se de uma guitarra se tratasse.
Foi um concerto “memorável”, tal como antecipou Leonel Gouveia, presidente da Câmara Municipal, logo no início do evento, tendo todos ficado “mais enriquecidos e com mais coragem para enfrentar os tempos difíceis” que vivemos.
Nas palavras que dirigiu à assistência, Luís Matos, diretor do CMAD anunciou que os próximos concertos integrados no ciclo de piano, programado para este mês de novembro, haviam sido adiados, devido ao agravamento do cenário pandémico e ao facto de envolverem a participação de alunos e professores.
Luís Matos agradeceu, ainda, todo o trabalho de profissionais de saúde e de outras áreas essenciais, que de forma empenhada, "todos os dias, dão o seu melhor e arriscam as vidas em prol de todos nós". Neste contexto, enalteceu o trabalho dos Bombeiros Voluntários de Santa Comba Dão, dando os parabéns aos representantes desta instituição, que no dia 6, assinalou o seu 105.º aniversário.
Numa nota especial, agradeceu, ainda, todos aqueles que contribuíram para a concretização deste sonho comum e relembrou, uma vez mais, Paulo Gomes, antigo diretor do CMAD, impulsionador e mentor da ideia. Foi ele que se lembrou de pôr à venda as primeiras peças do piano, tendo também sido responsável pela compra da primeira peça. A influência positiva e marcante deste homem “inspirador” foi recordada emotivamente, tendo sido entregue uma lembrança simbólica à companheira do músico e docente, Helena Coelho.
No rol de agradecimentos, Luís Matos incluiu também a família CMAD e o Município de Santa Comba Dão, que apoiou a realização deste evento através do programa Momentos de Cá, tendo efetuado “as alterações necessárias para acolher este instrumento”. Em representação da autarquia, Leonel Gouveia recordou, igualmente, o professor Paulo Gomes, que viu Santa Comba Dão como um concelho predestinado para a música e para a educação artística. O facto é que - segundo o autarca - esta já não é uma perspetiva visionária e a vivência da música é ímpar para um concelho do interior e até para a maior parte do país, havendo em praticamente todas as famílias do território um músico integrado no CMAD ou nas filarmónicas. “Um desígnio que temos de continuar”, destacou.
O autarca fez notar que este momento e todos os concertos enquadrados no ciclo de piano deveriam ter sido vividos de uma forma mais ampla e com maior envolvimento da comunidade. Infelizmente, sublinhou, a pandemia veio condicionar o nosso quotidiano e tal não foi possível, aguardando-se melhores dias para uma vivência mais plena da cultura e da fruição das artes.